Belém, Pará – Enquanto o Brasil sedia a Cúpula do Clima (COP30) sob o discurso da sustentabilidade e da responsabilidade global, os bastidores do evento são marcados por sérias alegações de corrupção. Investigações que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Tribunal de Contas da União (TCU) apontam fortes indícios de superfaturamento e fraude em licitações milionárias relacionadas às obras e à organização da conferência em Belém.
As suspeitas não se restringem a um único contrato, mas envolvem a licitação de infraestrutura no Pará e até a aquisição de itens básicos pelo Governo Federal.
A Ação da PGR e a Licitação de R$ 142 Milhões
A Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu a abertura de inquérito que tramita em sigilo no STF para investigar um suposto esquema de corrupção que envolve uma licitação de aproximadamente R$ 142 milhões destinada a obras de infraestrutura em Belém, como parte dos preparativos para a COP30.
• O Esquema: A investigação aponta indícios de um esquema de desvio de recursos públicos envolvendo agentes políticos, empresários e até policiais militares no Pará.
• A Ligação Política: O caso ganhou força após a Polícia Federal prender um policial militar que realizava saques milionários cuja origem era a conta de empreiteiras. Segundo a PGR, essas empresas estão ligadas a um deputado federal do Pará, o que levou a investigação para o STF. As empresas sob suspeita teriam vencido o certame e possuíam contratos de mais de R$ 1 bilhão com o Governo do Pará.
O TCU e os Indícios de Superfaturamento Generalizado
Paralelamente à investigação da PGR sobre corrupção em licitação, auditores do Tribunal de Contas da União (TCU) identificaram indícios de superfaturamento em diversos outros contratos relacionados à organização da COP30, cobrando explicações urgentes do Governo Federal.
• Comercialização de Espaços: O TCU viu irregularidades e indícios de superfaturamento na comercialização de espaços nas áreas do evento, como a Green Zone e a Blue Zone. Auditores apontaram que os preços cobrados por metro quadrado para estruturas e pavilhões eram desproporcionais ao valor de mercado.
• Gastos Absurdos: Deputados da oposição acionaram o TCU, questionando preços abusivos. Um dos exemplos que ganhou destaque na imprensa foi a compra de galões de água pelo Governo Federal com preços até 611% acima do valor praticado em outros contratos públicos.
• Navios de Cruzeiro: O alto custo da contratação de dois transatlânticos de luxo (cerca de R$ 260 milhões) para hospedar as delegações também está sob apuração do TCU, sendo visto por críticos como uma solução emergencial de altíssimo custo para o contribuinte.
O Foco da Crítica
O ponto central da indignação é que o evento, que deveria ser um marco de transparência e responsabilidade ambiental, está sendo manchado por suspeitas de desvio de recursos. O argumento de que o custo da COP30 se tornou uma "caixa-preta" ganha força com a decisão de classificar em sigilo o valor total do contrato do barco-hotel utilizado pelo Presidente Lula em Belém.
As autoridades responsáveis pela organização da COP30, incluindo o Governo do Pará e a Secretaria Extraordinária da COP30 do Governo Federal, têm negado as irregularidades e afirmado que todos os contratos seguem critérios de probidade e legalidade. No entanto, o peso das investigações da PGR e do TCU coloca uma sombra de desconfiança sobre o evento.


