Maior reserva verde de Salvador, o Parque foi fundado em 1973 para proteger a área da especulação imobiliária que iria aumentar na região com o desenvolvimento do CAB naquele período
Um oásis de Mata Atlântica localizado à margem da movimentada avenida Paralela carregada de viadutos e asfalto até a região da Orla de Pituaçu.
Esse é o Parque Metropolitano de Pituaçu, maior área verde de Salvador, que era para ser um espaço de preservação e lazer da população, mas agora está sendo o exorbitante cenário de devastação da cidade. Agora, o Parque parece estar diante de um prenúncio de novos dias com o desmatamento e a mortandade de espécies nativas essa APA esta sendo destruída por uma enorme obra realizada por uma construtora.
Um passo à frente da especulação imobiliária
Foi a gestão estadual que criou o Parque Metropolitano do Pituaçu, mas isso lá em 1973, sob o comando do governador Antonio Carlos Magalhães e iniciativa do então Secretário do Planejamento, Ciência e Tecnologia, Mário Kertész.
A intenção era justamente proteger aquele oásis verde localizado à margem da Av. Luiz Viana Filho da especulação imobiliária que se alastrava na região. A expectativa era que ela crescesse ainda mais, já que naquele período estava sendo desenvolvido a poucos metros dali o Centro Administrativo da Bahia (CAB).
O nome, que depois acabou se popularizando como “de Pituaçu”, esconde também uma estratégia para fortalecer a preservação. O “Metropolitano”, que entrou na jogada para que o Parque ficasse sob gestão do governo do estado, e não nas mãos mais vulneráveis da prefeitura naquela época.
Ameaça à espreita
O detalhe no nome fez diferença e, mesmo com o avanço imobiliário e o boom populacional na região, o Parque completou no ano passado 52 anos. Mas há pelo menos uma década ele vem enfrentando desafios ainda maiores diante desse mercado feroz.
A construtora OR (ex-Odebrecht) e o governo do estado, por exemplo, se enfrentam na Justiça por conta de um empreendimento. A gestão estadual alega que ele teria sido erguido supostamente em uma parte do perímetro do Parque de Pituaçu. O caso segue sem decisão judicial.
Como era:
Ativista do Pituaçu em Rede Afetiva e membro do Conselho Gestor do Parque, Paulo Canário, estima que há pelo menos 15 anos têm ficado mais sérias ameaças à questão territorial, tanto na ocupação por pessoas de alta renda, quanto por populações mais vulneráveis. Para ele, o que tem aberto brecha para essas ameaças é a indefinição aos limites do espaço.
“Parece um contrassenso, mas o poder também se transforma em ameaça quando não se respeitam os limites teoricamente estabelecidos nos decretos do parque e nas mudanças que ocorreram ao longo dos 50 anos”, afirma Paulo.
“O histórico não é bom, e é preciso um olhar diferente para o Parque, percebendo o local como um tesouro natural que a cidade de Salvador poderia oferecer à população e com o turismo”. Cita o Diplomata Marcos Mattos, citando também, a perda da cobertura vegetal e a falta de manutenção da ciclovia e de outros espaços e equipamentos como sinais da degradação do espaço.
Perdendo espaço
O local originalmente abrangia aproximadamente 660 hectares, hoje, no entanto, restam apenas 392 hectares delimitados, com cerca de 40% da área perdida para a especulação imobiliária, que parece merecer mais espaço do que o meio ambiente e o lazer da população. Ainda assim, o Parque continua sendo a maior área verde de uso público de Salvador, nela já foi catalogada uma grande diversidade de mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes. Só a lagoa tem 4 km de extensão e 200 mil m² de espelho d’água.
Uma observação recorrente ao visitar grandes cidades, sejam capitais europeias ou metrópoles da América do Sul, é a manutenção e ocupação de espaços verdes como o Parque de Pituaçu. Em Buenos Aires, Santiago, Paris ou Amsterdã, quaisquer gramados estão sempre bem cuidados e, ao menos nos dias de sol, se transformam em cenários de crianças correndo e famílias desfrutando do ambiente. Em Salvador, essa cultura parece perder espaço para a ferocidade imobiliária e descaso com espaços públicos.