A Bahia, terra de todos os santos e de uma cultura vibrante, enfrenta hoje um desafio que, tristemente, a coloca nas manchetes nacionais por um motivo que deveria ser de profunda reflexão: a crise da segurança pública.
O avanço do crime organizado e o aumento vertiginoso dos índices de violência letal não são apenas estatísticas frias; eles representam uma falência do pacto social e, inegavelmente, um agente poderoso na reorganização do tabuleiro político do estado.
Por décadas, a Bahia notabilizou-se pela estabilidade de seus grupos políticos. No entanto, o medo que hoje impera nas ruas, bairros e cidades do interior converteu-se em uma moeda de alto valor eleitoral, capaz de desestabilizar hegemonias e forçar os atores políticos a uma reavaliação de suas estratégias.
O Fator Decisivo
O que antes era um problema social ou de polícia, hoje é o fator decisivo nas urnas. O eleitor baiano, historicamente leal a determinados projetos de poder, demonstra sinais claros de que a promessa de "paz" e o combate efetivo às facções criminosas serão o grande diferencial nas próximas disputas, principalmente nas eleições municipais de 2024 e na corrida pelo governo em 2026.
De repente, a oposição, que antes tinha dificuldades em encontrar uma pauta unificada e de forte apelo popular, encontrou na segurança a chaga aberta do governo. A cada novo episódio de violência, o discurso da gestão no poder, por mais que demonstre investimentos e esforços, é colocado em xeque, abrindo espaço para narrativas mais duras e, muitas vezes, mais simplistas, mas que ressoam no clamor popular por ordem.
O Dilema do Campo Progressista
Para o campo político que hoje governa a Bahia, o desafio é triplo:
1. Reverter os Índices: É preciso apresentar resultados concretos na redução da violência e da letalidade.
2. Manter a Narrativa Humanista: O governo precisa conciliar a mão forte contra o crime organizado com o respeito aos direitos humanos e o investimento em inteligência, evitando a armadilha de ser percebido como um "Estado matador", o que, como noticiamos, o próprio governador tem tentado demarcar.
3. Desarmar o Oponente: É crucial quebrar a exclusividade da oposição sobre a pauta da segurança, assumindo a liderança do debate com propostas complexas e de longo prazo.
A segurança pública não pode ser tratada apenas como um problema de polícia, mas como um intrincado nó de políticas sociais, urbanismo, economia e, sim, inteligência policial e combate ao crime financeiro.
O Risco da Simplificação
O grande perigo na reorganização deste tabuleiro é que a urgência do problema leve à simplificação do debate. A sociedade, exausta, tende a dar ouvidos a soluções fáceis, de efeito imediato, mas que historicamente se provaram ineficazes a longo prazo, como o encarceramento em massa e a intensificação da letalidade policial sem inteligência.
A crise de segurança na Bahia expõe, de forma brutal, que o estado não pode mais se dar ao luxo de tratar o tema com a inércia do passado. Ela força todos os atores políticos a reposicionarem suas bases ideológicas e a demonstrarem a real capacidade de gestão de uma crise multifacetada. A pauta de segurança pública não é mais um item na lista de promessas; é o filtro principal pelo qual a Bahia escolherá seus próximos líderes.


